Logo Trata Brasil

>Novo estudo do ITB demostra como a falta de saneamento afeta diretamente na saúde da população

Dados presentes no estudo apontam que houve um aumento de 30 mil internações por doenças de veiculação hídrica de 2018 para 2019

O Instituto Trata Brasil divulga o novo estudo “SANEAMENTO E DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA – ano base 2019” para apresentar como a ausência de saneamento básico impacta o sistema de saúde. Para a realização do estudo foram utilizados dados públicos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e o DATASUS, portal do Ministério da Saúde que acompanha os registros de internações, óbitos e outras ocorrências relacionadas à saúde da população do Brasil.

No Brasil, quase 35 milhões de pessoas vivem em locais sem acesso à água tratada, 100 milhões de pessoas sem atendimento à coleta de esgoto e somente 49% dos esgotos no país são tratados, conforme apontam os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 2019. Esses indicadores afetam diretamente o sistema de saúde brasileiro, com frequência pessoas são internadas devido à falta de saneamento.

A ausência de saneamento básico já impactava o sistema de saúde mesmo um ano antes da Covid-19 começar no Brasil: foram mais 273 mil internações por doenças de veiculação hídrica – um aumento de 30 mil hospitalizações comparativamente ao ano anterior (2018). A incidência foi de 13,01 casos por 10 mil habitantes gerando gastos ao país de R$ 108 milhões, segundo o DataSUS.

O estudo realiza uma análise do território nacional ponderando as cinco regiões brasileiras. No Norte do país, a ausência da infraestrutura é mais evidente, apenas 12% da população possui coleta de esgotos; as internações por veiculações hídricas correspondem a 42,3 mil. Além disso, a região apresentou a maior taxa de incidência – 22,9 por 10 mil habitantes.

Na região Nordeste foi onde ocorreu o maior número de hospitalizações por doenças de veiculação hídrica – 113,7 mil em 2019. Na região, somente 28% da população possui coleta de esgotos.

Analisando a condição sanitária do Sul, 46,3% da população tem acesso à coleta dos esgotos e 47% do esgoto gerado é tratado. Os indicadores da região Centro-Oeste apontam que 57,7% da população tem atendimento a coleta dos esgotos e 56,8% de tratamento do volume esgoto coletado. Essas duas regiões registram 27,7 mil internações cada.

Já o Sudeste apresenta os melhores indicadores com 79,2% da população com coleta de esgotos, entretanto com apenas 55,5% do esgoto gerado sendo tratado e 61,7 mil internações registradas. É importante notar que o Sudeste apresenta números de internação maiores que o Norte, porém possui sete vezes mais habitantes. Quando comparados os casos por 10 mil habitantes, forma mais correta, vê-se que os estados do Norte e Nordeste concentram os maiores problemas.

Gráfico 1 – Taxa de incidência de internações por doenças associadas à falta de saneamento (por 10 mil habitantes) em 2019

Fonte: DATASUS/Painel Saneamento Brasil

Observando os dados de óbitos por doenças de veiculação hídrica, em 2019, a falta de acesso à água tratada e ao esgotamento sanitário resultaram em 2.734 óbitos, uma média de 7,4 mortes por dia. No Nordeste, os óbitos ultrapassam mil casos, no Sudeste, 907 mortes registradas. O Norte registrou 214 casos.

Gráfico 2 – Óbitos por doenças de veiculação hídrica (Número de óbitos) em 2019.

Fonte: DATASUS/Painel Saneamento Brasil

Refletindo por meio do contexto do ano de 2020, no mundo inteiro o início daquele ano foi marcado pelo aparecimento da pandemia da Covid-19; doença que até agora já fez mais de 4,3 milhões de mortes no mundo. No Brasil são quase 600 mil óbitos e desde março de 2020 os hospitais estão quase exclusivamente dedicados à COVID.

Pensando na relação entre saneamento e doenças em 2020, dados preliminares mostram que o país teve 174 mil internações por doenças de veiculação hídrica (diarreicas, dengue, leptospirose, esquistossomose e malária). Seria uma redução de 35% comparativamente a 2019, entretanto os dados precisam ser analisados com cuidado pelas instituições médicas, pois a queda pode estar relacionada ao afastamento das pessoas dos hospitais por medo de contaminação da Covid. Os óbitos em 2020 estão estimados em 1,9 mil, o que também seria uma redução entre 30 e 35% comparativamente ao ano anterior.

CONCLUSÃO

Os dados apresentados no estudo mostram a importância de se acelerar a agenda do saneamento básico com mais investimentos de forma a que mais pessoas recebam os serviços. Com a melhoria dos serviços de saneamento básico, a população será beneficiada com aumento na qualidade de vida e consequentemente, as pessoas serão mais saudáveis.

O Brasil precisa trabalhar para cumprir as metas do ODS 6 – Água Potável e Saneamento, firmado pela ONU, de universalizar o acesso à água e os serviços de esgotamento sanitário, além de buscar cumprir com as metas do novo Marco Legal do Saneamento, Lei 14.026 de 2020, que estipula o prazo até 2033 para 99% da população ter acesso à água tratada e 90% da população ter coleta dos esgotos.

 “Os dados deixam claro que qualquer melhoria no acesso da população à água potável, coleta e tratamento dos esgotos traz grandes ganhos à saúde pública. Por outro lado, o não avanço faz perpetuar essas doenças e mortes de brasileiros por não contar com a infraestrutura mais elementar. São hospitalizações com ocupação de leitos que poderiam estar sendo destinados a doenças mais complexas. É essencial que o Brasil resolva definitivamente isso, pelo bem do país e seus cidadãos”, afirma o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos.